terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pedaços e estilhaços

Foi um rastro.
Uma minúcia, do meu lado.
E do efeito borboleta
era tudo ao seu coração despedaçado.

Um cego egoísta
com vontade do contrário.
Errante com roupas velhas
vestindo o passado na hora errada!

Julgo-me todos os dias
e sou o meu pior juiz.
Culpo-me, culpado!
Preso e devastado.

O caminho de casa é longo,
passo por mim toda vez.
Tento me perder
mas a loucura desconhece o perdão.

O presente era o futuro,
e eu havia achado o perdido.
Fui um tolo da modernidade
e aquilo que nunca quis ser.

Agora o meu castelo é carta marcada
e o meu destino está encurralado.
Dentro de mim agora,
a menina dos meus olhos morre afogada.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Saudosa maravilhosa

Cheguei de maneira calma
e abri suave.
Foi tão lento
que fiquei mais velho.

Dois tapas com a canhota
e consegui instalar-me.
Óculos escuros
e um azul no horizonte.

Brisa me acariciando
e gente de tudo quanto é cor
pra lá e pra cá
caminhando e correndo.

Gargalhada pra todo canto
e alegria sem fim.
Picolés que refrescam a garatoda;
e loira gelada pra rapaziada.

Saudades desse tempo
onde gente era a gente.
E multidão era
festa, não arrastão.

Hoje os metais tem vida,
são blindados e nos perfuram.
Hoje não temos mais liberdade,
os metais tomaram conta da cidade.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um doce
que saiu suave
contornando o ar
e vibrando em harmonia.

Um encontro já encontrado
um prazer já sentido
olhares já trocados
e abraços já cruzados.

É fiel ao que sente
e tem assim minha admiração.
Sinto inveja rústica
de quem vê por entre os fatos.

Numa brincadeira moderna
diz-se-que-me-diz
sinto passar pelos dedos, seus,
só por exibicionismo, a história.

Como trovador que sou
sofro junto, com ela.
Não acorde ninguém dos sonhos
se não for também para se encantar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mistérios e suspense

Dessa vez eu cavo
e cavo até o mais eu.
O mais profundo eu
pra ver se consigo o abstrato.

Fica claro o meu eu
pra você, sua espiã.
Finjo em rimas
os meus desejos nos seus.

Seca esses versos
e me deixa nu, você sabe.
Em sentimentos ainda brutos
enxega o que protejo.

Penso, penso e penso bastante
só pra impressioná-la
e ouvir tudo que preciso,
sem você profeir sequer uma palavra.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Papo furado

Não jogue daqui
com as cartas abaixadas,
os jogos de lá
são com cartas marcadas.

Os jogadores aqui
prezam pelo jogo.
Os jogadores de lá
jogam com o jogo.

De criação distinta,
temos pais semelhantes.
E nossas crenças
se confudem pelos séculos.

Mas não me venha afirmar
que o nosso jeito de amar
é igual daqueles que do mar
ficaram com medo de atrevessar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amiga minha,

Não fique assustada,
e nem fique com medo.
Estenda-me a sua mão
e conto a você todos os meus segredos.
E quando acelera,
cria expectativa
e o ritmo
é de teimosia?

Quando o curvo
se entorna
e quando a reta
me leva a você?

De tamanha maestria
se e somente se
ao ápice
da camuflagem.

Poderia entregar
e dizer logo
mas eu prefiro confundir
e você me pedir certeza.

Não sei se essa água
molha.
Nem se esse calor
queima.
Mas esse amor,
ah, esse ama!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A rotina faz parte.
Agora ela vive em mim,
de maneira disfarçada
só pra aparecer nos meus textos.

Mas eu também sou.
Herói de guerra, sobrevivi.
Sei como cortar atalhos
e esconder verdades.

Nestas linhas agora
vou cravar o que sei.
De modo certo
em pretérito-perfeito.

E você vai lembrar
segurando soluços,
a beira de se matar
que ninguém amou você como eu amei.